domingo, 1 de fevereiro de 2009

Papel do Software Social na Construção de Ambientes de Aprendizagem

O uso do Software Social pode ter impacto, num futuro relativamente próximo, na organização dos ambientes de aprendizagem. O profissional da educação não pode contar apenas com os ambientes de aprendizagem formais susceptíveis de serem gerados na sala de aula, mas ter cada vez mais atenção aos chamados ambientes virtuais viabilizados pelas ferramentas que fazem parte do Software Social. Schaffert e Hilzensauer (2008) referem que o desenvolvimento e o sucesso de aplicações como os blogues e os wikis possibilitam a criação de ambientes de aprendizagem particulares, designados de Personal Learning Environments - PLE, termo introduzido pela primeira vez em 2004 e já referenciado noutro post deste blogue.
Attwell (2007) menciona a respeito dos PLE que estes não são aplicações, mas sim “uma nova abordagem no uso de tecnologias para a aprendizagem” (p. 1) e que o seu uso “pode ser útil e desempenhar um papel importante na aprendizagem no futuro” (pág. 2), pelo facto destas aplicações tornarem possível a agregação de diferentes serviços. Nestes ambientes digitais os alunos podem ter controlo sobre as suas experiências de aprendizagem (gestão de recursos, o trabalho que realiza, as actividades em que participa, etc.).
Os PLE são organizados de acordo com as necessidades e interesses do estudante. O facto de serem ambientes personalizados implica que o estudante adquira informação relativa a oportunidades de aprendizagem e a conteúdos provenientes de múltiplas comunidades e serviços. As fontes de informação, as actividades e as possibilidades de organizar a estrutura, as ferramentas, os materiais agregados, são seleccionadas pelo próprio estudante.
A aprendizagem nestes ambientes envolve também a produção de conteúdos desenvolvidos colaborativamente, através de diversas aplicações: blog postings, contribuições nas páginas Wiki ou participação em discussões nos fóruns ou comentários nos blogues de outros membros da comunidade.
Porque são ambientes flexíveis é possível incluir conteúdos elaborados por especialistas na matéria ou por professores, mas também pelos pares/sujeitos que fazem parte da comunidade que partilham os mesmos interesses. Este aspecto tem a vantagem da criação, oferta e uso de recursos educacionais abertos, mas implica, na nossa opinião, ensinar os alunos a lidar com a informação disponibilizada, no sentido de conseguirem distinguir o que são conteúdos válidos e centrarem-se nos aspectos que são essenciais.
A ideia dos PLE reconhece que: i) a aprendizagem é contínua, proporcionada por ferramentas que suportam essa aprendizagem; ii) o indivíduo desempenha um papel importante na organização da sua própria aprendizagem; iii) a aprendizagem acontece em diversas situações e iv) a aprendizagem informal é importante (Attwell, 2007).
Referências bibliográficas:
  • Schaffert S. & Hilzensauer W. (2008). On the way towards Personal Learning Environments: Seven crucial aspects. eLearning Papers • www.elearningpapers.eu • 10 Nº 9 • July
  • Attwell, Graham (2007). The Personal Learning Environments – the future of eLearning? In: eLearning Papers, 2 (1), Retirado em 30 de Dezembro de 2008 de http://www.elearningeuropa.info/files/media/media11561.pdf

Redes Sociais

Redes Sociais são sítios da Web que colocam pessoas em contacto, permitindo a comunicação e a partilha de interesses. Para Recuero (2005) são conexões existentes entre actores, podendo estes ser pessoas, instituições ou grupos, as quais permitem aproximar e ligar indivíduos. Oferecem ainda oportunidades para as pessoas se relacionarem e colaborarem, proporcionando espaço para interacções à volta de actividades e interesses partilhados. A essência das Redes Sociais relaciona-se com a profundidade das conexões que acontecem quando aspectos comuns são partilhados e discutidos. As conexões existentes entre os actores de uma dada rede social são denominadas de laço social, podendo este ser forte (caracteriza-se pela intimidade, proximidade e intencionalidade em criar e manter a conexão entre pessoas) ou fraco (se for disperso e difuso).
Com a existência de redes sociais emergiu uma nova categoria de Websites designada de “Social Network Site”. Boyd e Ellison (2007) definem estes sítios como sendo serviços baseados na Web que permitem às pessoas: i) construir um perfil público ou semi-público dentro de um sistema definido; ii) articular a lista de outros utilizadores com quem partilham as conexões e iii) ver e negociar as suas listas de conexões e as dos outros dentro do sistema. A natureza e nomenclatura dessas conexões variam de sítio para sítio. As redes sociais mais conhecidas são: Hi5, MySpace, Facebook, Friendster, Cyworld, Mixi, Orkut; Ning, LinkedIn, Dodgeball, Flickr, Meetup, Youtube, etc. Muitos destes sítios são, essencialmente, comunidades virtuais de prática e/ou social.
São muitos os jovens que se interessam por este tipo de ambientes, devido, em parte, às possibilidades de fazer parte de uma comunidade, partilhar conteúdos e informação acerca de si próprios, realizar actividades diversas, perceber o que os seus pares pensam acerca de tópicos de interesse do grupo e trocar mensagens com os amigos (The Horizon Project, 2007).
Dado o interesse que os jovens manifestam na utilização deste tipo de software, algumas instituições escolares procuram integrá-las no currículo. Para Boyd & Ellison (2007) estas aplicações podem ser usadas, por exemplo, para: estimular a auto-expressão e proporcionar a imersão em ambientes de línguas estrangeiras. Por exemplo, as aplicações Ning e Elgg, mais usadas na educação permitem, a cada utilizador, organizar um blogue, um perfil na web, um leitor de RSS e um reportório de ficheiros com capacidades de podcasting. Estes e outras aplicações similares proporcionam de forma fácil a criação e sustentação de uma rede social com opções que não exigem muito trabalho sob o ponto de vista técnico, disponibilizando contas a convidados ou novas entradas de comunidades privadas.

Referências bibliográficas:

domingo, 18 de janeiro de 2009

Software Social e ambientes de e-learning

A utilização de tecnologias está a mudar a forma como se aprende. Cada vez é maior o número de instituições escolares que recorre à Internet para desenvolver parte das suas práticas educativas, utilizando, por exemplo, Learning Management Systems (LMS) - como seja a plataforma Moodle. No entanto, lentamente estão a perceber que esses ambientes têm de ir além da reprodução de ambientes tradicionais de aprendizagem, em que a sala de aula é embutida no software.
Segundo Evans (2007) a utilização de Software Social[1] pode possibilitar uma maior fluidez das interacções sociais do que seria possível com os actuais sistemas de gestão do aprendizagem (LMS). Como tal, o desenvolvimento e sucesso do Software Social provocam uma mudança de paradigma do ensino e da aprendizagem, estando a alterar a aprendizagem com recurso à Internet, nomeadamente nas situações de e-learning.
Quando se analisa o ensino na modalidade de e-learning, nomeadamente no ensino superior, verifica-se que a sua maioria utiliza LMS. Porém, dados da OCDE (2005) indicam que as instituições usam-nos principalmente para fins administrativos (admissões, registos, pagamentos, etc.) e que estas têm tido um impacto limitado nas práticas pedagógicas em sala de aula.
Para Dalsgaard (2006) é fundamental o e-learning ir para além dos LMS, bem como envolver os alunos na utilização activa da Web enquanto recurso para a auto-regulação da aprendizagem, para a resolução de problemas e desenvolvimento de actividades colaborativas. O Software Social parece ter potencial para promover esta mudança. Este autor apresenta uma visão da utilização do Software Social no apoio à abordagem sócio-construtivista
[2] dos ambientes e-learning, bem como a argumentação de que os LMS não suportam esta abordagem. Este autor coloca a sua ênfase nas actividades de aprendizagem auto-reguladas pelos alunos. Os LMS parecem estar limitados a este nível. É referido que o processo de auto-regulação da aprendizagem é apoiado pelas ferramentas pessoais do aluno e o seu envolvimento em diferentes tipos de redes sociais.
Segundo Dalsgaard (2006) a utilização dos LMS dentro da moldura conceptual da pedagogia sócio-construtivista, desempenha um papel menor na organização dos ambientes de aprendizagem em e-learning. Por outro lado, o Software Social pode apoiar uma abordagem sócio-construtivista para o e-learning, permitindo que os alunos usem ferramentas pessoais e se envolvam em redes sociais. Esta situação implica que a organização do ensino em modalidade de e-learning vá para além dos centralizados e integrados LMS e use uma variedade de ferramentas separadas e geridas pelos alunos em termos de auto-regulação do seu trabalho. Este autor argumenta que as ferramentas do Software Social capacitam de diferentes formas a utilização da Web nos contextos educacionais.
O Software Social possibilita a criação de Personal Learning Environments - PLE. Os PLE são sítios na Internet ou serviços onde os estudantes podem produzir conteúdos de aprendizagem ou reflexões e armazenar documentos acerca do seu processo de aprendizagem. Os utilizadores devem ser capazes de agregar informações a partir das suas comunidades de aprendizagem, por exemplo, através de RSS feeds ou blogues interessantes. São organizados de acordo com as necessidades e interesses do estudante. São também designados na literatura como sendo os futuros ambientes de aprendizagem virtual.

Para Schaffer e Hilzensauer (2008) existem pelo menos sete aspectos que, embora coloquem grandes desafios e mudanças no ensino a distância, tornam a mudança de LMS para PLE mais óbvia ou importante, que são: i) papel do estudante (mais activo, como criador e auto-regulador de conteúdos); ii) personalização com o apoio de informação resultante do contributo dos membros da comunidade; iii) conteúdos de aprendizagem infinito; iv) papel preponderante do envolvimento social; v) protecção de dados e informação sobre o aluno; vi) significado da aprendizagem auto-organizada para a cultura das instituições e organizações e vii) aspectos tecnológicos do uso de ferramentas do Software Social e agregação de múltiplas fontes.
Estes aspectos encontram-se descritos de uma forma mais detalhada na imagem que se segue.

Referências bibliográficas:
  • Attwell, Graham (2008). Social Software, Personal Learning Environments and the Future of Teaching and Learning. In. A. A. Carvalho (org.). Actas do Encontro sobre Web 2.0. Braga. CIEd. Braga.
  • Dalsgaard, C. (2006). Social software: E-learning beyond learning management systems. In: European Journal of Open, distance and e-learning Retirado em 20 de Dezembro de 2008 de http://www.eurodl.org/materials/contrib/2006/Christian_Dalsgaard.htm
  • Evans, V. (2007). Networks, Connections and Community: Learning with Social Software. Australian Flexible Learning Framework. FLEXIBLELEARNING.NET.AU. Retirado em 30 de Dezembro de 2008 de http://www.flexiblelearning.net.au/flx/webdav/site/flxsite/users/cpickles/public/Final_Report_Social_Software_for_Learning17April.pdf
  • Schaffert S. & Hilzensauer W. (2008). On the way towards Personal Learning Environments: Seven crucial aspects. eLearning Papers • www.elearningpapers.eu • 10 Nº 9 • July ISSN 1887-1542

    Notas:
    [1] Software Social são programas que apoiam a comunicação em grupo, abrangendo uma vasta gama de sistemas de software que permite aos utilizadores interagir e partilhar informações. Essas interacções são mediadas por computadores.
    [2] o conhecimento é construído tendo por base as experiências que o aluno já viveu e as interacções entre o conhecimento actual e as novas ideias e situações (Attwell, 2008)