Começando por analisar esta medida com base numa das teorias criticas das teorias tradicionais do currículo, creio ser possível afirmar que ela reflecte, em parte, os interesses particulares das classes sociais e dos grupos dominantes. Evidencia a conexão que existe entre currículo e poder, isto é entre a produção, distribuição e consumo de recursos materiais e económicos e a produção, distribuição e consumo de símbolos como a cultura, o conhecimento, a educação e o currículo (este último aspecto bem menos transparente do que o anterior).
Considerando a perspectiva de Apple (Tadeu da Silva, 2000) a escola deve desempenhar um papel relevante na produção de conhecimento, o qual é importante para a economia e a produção. No entanto, este aspecto não se encontra manifesto de uma forma explícita no PTE. Ou seja, para se compreender o currículo temos de formular questões sobre as suas ligações com o poder: que conhecimentos são privilegiados no currículo, quais os grupos sociais que são prejudicados com o forma como este se encontra organizado e como se formam as resistências e oposições ao currículo oficial? Nesta perspectiva é necessário ir mais além do que tomar medidas relacionadas com o apetrechamento técnico das escolas. Obviamente que é um aspecto a considerar, já que os alunos podem sentir-se mais motivados se tiverem à sua disposição ferramentas que facilitem/ apoiem aprendizagens significativas, mas não será o principal, caso contrário havia muitas crianças no mundo que não podiam aprender, dados os limitados recursos que os seus países dispõem. Por outro lado, algumas das nossas crianças vivem em situações familiares tão desesperantes, como a falta de bens essenciais à sobrevivência humana, que a possibilidade de ter um equipamento mais vanguardista, pode ser pouco significativo para eles.
Assim, acreditar que os problemas da educação, nomeadamente os que se vivem na sociedade portuguesa, se podem resolver apenas com esta medida, é, na minha opinião, não conhecer de forma explícita o processo subjacente à aprendizagem. Se as crianças não tiverem adquirido previamente as competências básicas relacionadas com a aprendizagem da leitura e da escrita, certamente que não é, apenas por terem um computador portátil que os seus sucessos escolares vão surgir. Por outro lado, muitas das competências, atitudes e valores que a escola deve procurar transmitir, como sejam o saber estar em sociedade, implicam necessariamente contacto pessoal e interacções humanas, as quais nenhum computador neste momento pode dar ou transmitir (creio eu).
Como diz Bernstein é importante perguntar qual é o papel da escola no processo de reprodução cultural e social (Tadeu da Silva, 2000). De referir ainda que, de certa forma a crítica feita por Giroux às perspectivas dominantes do currículo, podem aplicar-se a esta medida, já que é fundamental o currículo ter em consideração a mediação e a acção humana e não estar determinado apenas pelo que acontece na economia e na produção. Por conseguinte, há que ter em atenção o carácter histórico, ético e político das acções humanas e sociais e do conhecimento, de outra forma podemos estar a contribuir para a reprodução de desigualdades e injustiças sociais.
Muitos alunos utilizam as tecnologias de uma forma bastante natural, mas nem sempre o fazem com fins educativos. Cabe, assim, ao professor a tarefa de fazer os alunos entenderem como é que essas tecnologias podem ser usadas para se tornarem uma das ferramentas: i) facilitadoras do seu processo de ensino / aprendizagem e ii) promotoras do desenvolvimento de competências específicas, as quais podem vir a ser úteis para o seu futuro enquanto pessoas pertencentes a uma determinada sociedade.
Gostaria de salientar ainda uma outra virtude do PTE a qual se relaciona com o facto de criar oportunidades para que todos os alunos (independentemente da sua classe social de proveniência) possam ter acesso às tecnologias. Para muitas delas pode ser mesma a única oportunidade. Pena é que este esforço não seja acompanhado por medidas idênticas noutras áreas da política, como seja a área social.
Considero igualmente oportuno ter em consideração os possíveis efeitos negativos quando se utiliza de forma exagerada, diria talvez obsessiva, computadores e outras tecnologias no nosso dia a dia. Como tudo na vida é importante encontrar um equilíbrio, neste caso entre o uso das tecnologias como ferramentas que podem ser colocadas ao serviço do processo de aprendizagem dos nossos alunos e as abordagens que envolvem a interacção em situações reais, pois o ser humano é um ser social por excelência e precisa de contacto e de exercício físico para se sentir bem ...
Penso que os professores podem desempenhar também um papel significativo na supervisão destas situações, em conjunto com as famílias. Ajudar os jovens a reflectir sobre estes aspectos é um aspecto importante a considerar na nossa intervenção educativa.
- Tadeu da Silva, Tomaz (2000). Teorias do Currículo - Uma introdução critica. Colecção Currículo, Políticas e Práticas. Porto Editora.
- Miranda, G. (s/d). As aplicações Actuais dos Computadores no Ensino: Taxionomia dos Ambientes de Aprendizagem Informatizados. In: Teorias da Aprendizagem e Aplicações Educativas Programáveis (documento disponibilizado on-line na disciplina Aprendizagem em TIC).