quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Análise do Plano Tecnológico da Educação

Sob uma óptica Tradicional

Ao analisar o Plano Tecnológico da Educação (PTE - ver sitio referido no fim desta reflexão) na pele de um educador tradicional, de um modo geral verifico que demonstra preocupação com a massificação do ensino na área das tecnologias, bem como alguma preocupação com a organização, mas não tanto com o método. Para além destes aspectos gostaria de tecer outros comentários.
O primeiro que me surge relaciona-se com o facto da perspectiva tradicional (Bobbitt) propor que a escola funcione como uma empresa comercial ou uma fábrica, apresentando um modelo de currículo direccionado para a economia e eficiência. Na análise que faço ao sítio do PTE este aspecto também é visível, por exemplo: encontramos pelo menos duas referências à promoção do emprego dos alunos dos cursos TIC do ensino profissional nas empresas de referência da economia do conhecimento. São estabelecidos inclusivamente objectivos a nível dos estágios TIC e das Academias TIC relacionados com este aspecto. Porém, este tópico só é perceptível na leitura mais atenta do PTE e não tanto na arquitectura do sítio em si.
Por outro lado, na óptica tradicional é necessário estabelecer quais as capacidades que se precisa desenvolver e depois organizar um currículo que possibilite a sua aprendizagem. Por conseguinte, a maior preocupação diz respeito ao desenvolvimento curricular, o qual assume bastante importância, sendo fundamental estabelecer padrões. Ao examinar o sítio do PTE não encontro nos documentos apresentados uma preocupação clara pelo desenvolvimento curricular. É referido na definição dos objectivos que o fundamental da escola é ensinar e aprender, mas não salienta o quê. Os objectivos mais claros referem-se sobretudo aos aspectos relacionados com a tecnologia e não tanto com os conteúdos.
Segundo comentário, na óptica tradicional este Plano Tecnológico não evidencia preocupação em procurar analisar o currículo em torno da ideia de organização e desenvolvimento, não respondendo de forma explícita às quatro questões que Tyler considerava essencial: i) Que objectivos educativos deve a escola procurar atingir?; ii) Que experiências educativas podem ser oferecidas e quais podem ser aprendidas?; iii) Como organizar eficientemente essas experiências? e iv) Como ter a certeza que esses objectivos foram alcançados?
Estas questões correspondem de certa forma aos três aspectos em que a actividade educacional se tem organizado: currículo (i); ensino/aprendizagem (ii e iii) e avaliação (iv). Este autor salienta a importância de se definir clara e objectivamente os objectivos estabelecidos, sendo formulados em termos de comportamentos explícitos – orientação comportamentalista.
A decisão sobre como as experiências devem ser desenvolvidas e como devem ser organizadas depende muito da especificação precisa dos objectivos. Sem esta definição não é preciso avaliar com precisão os padrões de referência.
Relativamente ao aspecto da avaliação o sítio do PTE apresenta de uma forma clara quais são os principais indicadores que o Plano procurará alcançar, quer em termos do objectivo estratégico, quer às metas que estabelece. Porém, na minha opinião não define de forma clara e específica quais as experiências que devem ser desenvolvidas e como devem ser organizadas, o que não corresponde a um dos princípios apontados como importante por Tyler (Tadeu da Silva, 2000).
Por último, gostaria ainda de salientar os aspectos que considero como mais positivos no PTE:
i) O ter sido tomado uma decisão política de procurar alterar a situação actual, a qual implica a reestruturação do parque tecnológico das nossas escolas.
ii) O plano ter sido pensado após a realização de um estudo prévio sobre a situação actual
iii) O ter definido a sua intervenção em torno dos eixos considerados como lacunares no nosso actual sistema: eixo tecnológico, eixo conteúdos e eixo formação.
iv) O eixo tecnológico incluir várias dimensões: uma relacionada com o acesso à informação por parte dos alunos (kit tecnológico, Internet de Alta velocidade e Internet na Sala de Aula), outra ligada a questões de segurança (cartão escola e escol@segura).
Quanto aos aspectos que considero negativos de destacar: i) A excessiva propaganda política do sítio. Os vídeos apresentados demonstram a propaganda política do Plano, mas não retratam como se pode alcançar os objectivos traçados em termos pragmáticos; ii) O sítio dá pouca relevância ao professor. Apesar de referenciar a formação de professores é um aspecto que na minha opinião merecia mais atenção. iii) Os objectivos a que é dado maior destaque no sítio estão basicamente relacionados com o eixo tecnológico, sendo que muitos aspectos relevantes do Plano não se encontram explícitos no sítio, é necessário ler o Diário da República para os encontrar.

Da leitura e análise efectuada ao PTE parece-me que este tem como principal objectivo contribuir para uma sociedade do conhecimento e reforçar o conhecimento e competências dos portugueses. Este mesmo documento parece ter consciência (pelo menos em termos de intenção) que para concretizar tal objectivo é preciso valorizar e modernizar a escola, criando condições físicas que favoreçam o sucesso dos alunos e consolidem o uso das TIC para promover o ensino / aprendizagem. Por conseguinte, os três eixos de actuação do Plano: Tecnologia, Conteúdos e Formação parecem-me cobrir (pelo menos em termos de ideias) os aspectos que refere como sendo os actuais constrangimentos. De assinalar ainda que este Plano parece estar orientado para questões relacionadas com a economia e eficiência e tem alguma preocupação sobre organização, aspectos que se inserem na óptica tradicional de currículo.

Relativamente a alguns comentários apresentados no fórum desta disciplina gostaria de mencionar que na minha opinião na realidade portuguesa é mais fácil descrever o que se pretende fazer, ou o que se considera essencial implementar, do que operacionalizar aquilo que se determina. A formação é urgente, aspecto sem o qual não vai ser possível usar eficientemente as tecnologias que se distribuem às escolas, nem colocá-las ao serviço do processo ensino/aprendizagem. Para concretizar o plano traçado no PTE é importante motivar os profissionais a integrarem as Tecnologias Educativas nos currículos educativos dos seus alunos e envolverem-se mais activamente em actividades relacionadas com as tecnologias educativas. Para que as medidas proclamadas no PTE se concretizem efectivamente, talvez fosse útil as medidas serem pensadas em colaboração com os professores, definindo simultaneamente o seu modo de as operacionalizar.

De referir ainda que em todas as profissões é importante os profissionais actualizarem os seus conhecimentos e procedimentos, pelo que considero essencial prepararmo-nos para as exigências que a sociedade nos impõe. Só dessa forma poderemos preparar os nossos alunos para o futuro. Com isto não quero de modo algum afirmar que devemos abandonar o que fazíamos antes. Penso que é útil procurarmos um equilíbrio e ir progressivamente integrando as tecnologias que nos permitem aceder a mais conhecimento. Aproveitar o que de melhor elas nos podem dar e usá-las também para motivar os alunos para a aprendizagem significativa.

Nota: Sitio com informação sobre o PTE http://www.escola.gov.pt/inicio.asp

Considerando o que aqui se discutiu e o que conhece do PTE, qual é a sua opinião sobre o mesmo?

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